A Bachiana número 5 de Villa Lobos e interpretações de Chico Buarque e Elis Regina deram o tom e emocionaram os participantes da Marcha em Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos, Vítimas da Ditadura Militar em Goiás e no Brasil, realizada na manhã desta terça-feira, 8, em Goiânia. Organizada pelo Comitê Goiano da Verdade, o ato teve como objetivo também tornar público à população e à imprensa a luta do Comitê pela instalação da Comissão Nacional da Verdade e para que a mesma cumpra o seu papel, possibilitando a recuperação da memória e a destruição da mentira utilizada para proteger agentes da repressão nos ‘tempos de chumbo’. Participei do ato como representante do mandato da deputada federal Marina Sant’Anna (PT-GO), que é membro-fundadora do Comitê.
A cantora lírica Goiana Vieira, interpretando Bachiana nº 5 de Villa Lobos. Simplesmente, emocionante! |
A concentração para o ato ocorreu às 9 horas da manhã, na Praça do Bandeirante, no centro da capital. A marcha começou às 10 horas. Dirigentes dos movimentos de direitos humanos levavam uma faixa do Comitê enquanto, logo atrás, em fila indiana, 15 militantes portando cruzes brancas com a inscrição dos nomes dos 15 mortos e desaparecidos de Goiás, caminharam pela Avenida Goiás até a Praça Cívica – onde fica a sede administrativa do Governo do Estado – em direção ao Monumento aos Mortos e Desaparecidos, em frente ao Bosque dos Buritis. As cruzes simbolizavam a luta pelo esclarecimento da verdade sobre cada caso. Os participantes usavam camisetas do comitê, confeccionadas especialmente para a marcha.
O cantor e compositor Itamar Correia, que cantou e encantou com a música "Todos estão em nós", alusiva aos mortos e desaparecidos de Goiás. Na foto, o momento em que organizava o início da marcha. |
Apesar do transtorno no trânsito a absoluta maioria dos motoristas foi solidária ao ato e aguardou pacientemente a passeata. A Marcha terminou com um ato político no local onde fica o Monumento aos Mortos e Desaparecidos, em frente ao Bosque dos Buritis. Vários membros do Comitê e militantes de direitos humanos discursaram reforçando a importância do resgate de nossa verdade e memória histórica, condições para o pleno estabelecimento da justiça e da paz.
Membro do Instituto Brasil Central (IBRACE), o professor, ex-deputado federal e ex-Prefeito de Goiânia Pedro Wilson Guimarães avaliou que a marcha cumpriu o seu papel na medida em que teve acolhida da sociedade e da imprensa. Segundo ele, outras atividades como essa deverão ocorrer ainda, até que a Comissão Nacional da Verdade seja nomeada pela Presidenta Dilma Rousseff e realize com efetividade o seu trabalho.
Pedro Wilson Guimarães (em entrevista à imprensa): indicação dos comitês da verdade do Distrito Federal, de Belo Horizonte e de Goiás para a Comissão Nacional da Verdade. |
De acordo com o vice-presidente da Associação dos Anistiados Políticos de Goiás, Marcantônio Dela Corte, a marcha chama a atenção para a necessidade de indicar um representante do estado para integrar a Comissão Nacional da Verdade. Na próxima quarta-feira (16/11), os representantes do Comitê Goiano da Verdade devem finalizar um documento no qual indicam o nome do ex-deputado federal Pedro Wilson (PT) para a Comissão Nacional da Verdade.
O Projeto de Lei que cria a Comissão Nacional da Verdade foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal e agora aguarda a sanção da Presidenta Dilma Rousseff. A comissão deverá ter sete membros e tem como objetivo apurar fatos ocorridos do período da ditadura até o ano de 1988, entre eles crimes de tortura e assassinato cometidos em nome do Estado brasileiro.
As interpretações em capela da Bachiana nº 5 de Villa Lobos pela cantora lírica Goiana Vieira (pela segunda vez); e da composição “Todos estão em nós”, alusiva aos mortos e desaparecidos goianos, pelo músico Itamar Correia, fecharam com chave de ouro a manifestação.
Jovens mártires
No caso de Goiás, o paradeiro dos corpos de quinze jovens mortos ou assassinados por agentes da ditadura militar permanece desconhecido. São eles: Arno Preis, Cassimiro Luiz de Freitas, Divino Ferreira de Souza, Durvalino Porfírio de Souza, Honestino Monteiro Guimarães, Ismael Silva de Jesus, James Allen Luz, Jeová de Assis, José Porfírio de Souza, Márcio Beck Machado, Marco Antônio Dias Batista, Maria Augusta Thomaz, Ornalino Cândido, Paulo de Tarso Celestino e Rui Vieira Bebert.
Participaram da marcha pessoas e/ou representantes das seguintes entidades e organizações: Associação dos Anistiados, pela Cidadania e Direitos Humanos do Estado de Goiás (ANIGO), Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás, Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Goiânia, Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO), Central Única dos Trabalhadores (CUT-GO), Forum Goiano de Mulheres, Conselho Estadual da Mulher, Casa da Juventude Padre Burnier (CAJU), Sociedade do Samba Sebastião Saraiva Magalhães (SOSSAM), Instituto Brasil Central, Programa de Direitos Humanos da UFG, Programa de Direitos Humanos da PUC Goiás, Comissão de Mortos e Desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, Deputado Estadual Mauro Rubem (PT-GO), Deputada Estadual Isaura Lemos (PCdoB), Pró-Central de Movimentos Populares de Goiás, Deputada Federal Marina Sant’Anna (PT-GO), COOPDM (habitação popular), Mix Comunicação e Associação de Moradores do Setor Faiçalville, Sérgio Alberto Dias ‘Serjão” (Assessor Especial do Prefeito Paulo Garcia), o Secretário de Esportes e Lazer da Prefeitura de Goiânia, Luiz Carlos Orro. Membro do Comitê da Verdade do Distrito Federal, o jornalista e ex-preso político, Jarbas Silva Marques também fez questão de participar. O mandato da deputada federal Marina Sant’Anna (PT-GO) esteve representado pelos assessores parlamentares: Cláudio Marques, Ronnie Barbosa, Antônio Macário e Ulisses Marcelo.
Galeria com 69 fotos, no meu Facebook, por meio do link:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.287534764610702.79603.100000625411387&type=1&l=09cfc3f711
Galeria com 69 fotos, no meu Facebook, por meio do link:
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Que seria do mundo sem pessoas assim tão especiais, como os queridos Pedro Wilson, Pinheiro Salles e como você! Parabéns aos organizadores e aos participantes dessa marcha, que não permitem que a história seja apagada.
ResponderExcluirObrigado pelas palavras enaltecedoras, Regina, mas essa luta é (e deve ser) profundamente coletiva. No meu caso, engraçado, sempre que ouço as histórias dos que sobreviveram aos tempos de exceção (e sobre os que tiveram ceifada a vida no combate), me lembro que nasci em 1968, portanto, no ápice da repressão. Que sorte a de nossos filhos e nas novas gerações que não tem as amarras resultantes da ditadura! Se bem que têm outras, mas que podem ser transpostas com liberdade!!!!!
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