“O pódio tem três
lugares – ouro, prata
e bronze – mas o mundo,
a vida, é muito
mais que isso”
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Cientista social, antropólogo e psicólogo Carlos Rodrigues Brandão: "a felicidade está na maneira simples de se levar a vida" |
Na palestra, de aproximadamente uma hora, o professor afirmou que, apesar de todas as contradições do mundo, “talvez tenhamos chegado à era da consciência”. Seria uma era de paz, concórdia, na qual o ser humano se abre para a compreensão de si mesmo, “em dimensões inimagináveis”. Citando estudos do jesuíta francês Teillard de Chardin, afirmou que enquanto a realidade parece apontar para o apocalipse, nossa Terra iluminada se espiritualizará.
De um lado, o mundo regido pelo medo, pela violência, pela necessidade de nos fecharmos em nossos cantos e recantos, “numa crescente inconsciência”. De outro, a alternativa de humanidade solidária, aberta ao socialismo no sentido cristão.
Jovens, atentos ao debate sobre uma outra sociedade possível... |
...mais humana, solidária e fraterna. |
Para Brandão as nações se armam e fazem guerras não movidas pelo ódio, mas por medo. Para explicar a sua tese, citou Buraco Branco do Tempo. O filme demonstra que o oposto da paz e do amor não é o ódio, mas exatamente o medo. E afirma que seriam necessários 780 bilhões de dólares para tornar o mundo totalmente sustentável e solidário, livre da miséria, com desigualdades suportáveis, doenças erradicadas e atendimento de qualidade a todos – o que seria impossível. “Mas o quê dizer do 1 trilhão de dólares gastos somente em armas?”, questionou o psicólogo.
Brandão: "Nações gastam US$ 1 trilhão em armas, enquanto US$ 780 bi tornariam o mundo livre da miséria e das desigualdades sociais". |
Acerca do papel da escola, criticou a ênfase que se dá à formação tecnicista em detrimento do conhecimento e, especialmente, da convivência. “Somos felizes com o outro”. O educador foi duro com aquelas pessoas que estudam não pensando em contribuir para uma humanidade melhor, mas pensando apenas em um salário bom, a qualquer custo. “Se vende a alma, o talento, a vocação”.
Carlos Brandão é convicto da necessidade de substituirmos a sociedade do consumo, do culto ao sucesso, da competição, por outra que valorize projetos de colaboração e o amor. “O pódio tem três lugares – ouro, prata e bronze – mas o mundo, a vida é muito mais que isso”, enfatizou.
Carlos Brandão: defesa de projetos de colaboração e amor. |
Para o antropólogo, a felicidade está na maneira simples de levarmos a vida. “É preciso criar uma vida sustentada estritamente pelo essencial, uma simplicidade voluntária e transformar isso em vida interior, em saber”. Essa vida de qualidade estaria na redescoberta do diálogo com o outro, na experiência da economia solidária, tendo claro que “a primeira troca da economia solidária é a troca de afeto, de amor”. E não a economia tradicional, baseada exclusivamente na necessidade de se aferir lucro.
Essa nova era seria pautada não apenas pela garantia de direitos formais/legais, mas em nosso papel enquanto “sujeitos de poder”. Esse poder originado em cada um de nós – muito maior do que o de governos que recebem da população outorgas provisórias – estaria concretizado em nossa capacidade de união em torno de um objetivo comum, a construção de uma vida solidária.
Carlos Brandão reconhece que tornar essa tese uma realidade é algo muito difícil. “Mas toda mudança é difícil”, concluiu.
Participação qualificada
Após a palestra foi aberta a palavra aos jovens presentes. Carolina, Capoeirista de Angola, ressaltou a importância da “corporalidade”, do toque, como forma de se romper a barreira da individualidade. “Não basta que falemos, a solidariedade é algo que precisa ser sentido”, ensinou.
Carolina: "A solidariedade precisa ser sentida". |
A educadora popular Ângela Cristina criticou o papel da universidade que pouco trabalha referências intelectuais como o sociólogo Florestan Fernandes e o pedagogo Paulo Freire. E enfatizou a importância da unidade de ação entre aqueles que acreditam na construção de um outro mundo possível. “Mas como construir essa unidade?”, questionou.
Ângela Cristina: "Como construir a unidade na luta?" |
Ana Laura, acadêmica de direito. |
Jovens do Núcleo de Assessoria Jurídica Popular (NAJUP) também participaram do debate. Expressaram que compõem uma minoria (no mundo do direito) que resiste e atua na defesa de direitos de excluídos da sociedade.
Jovens do Núcleo de Assessoria Jurídica Popular. |
O grupo Ponta de Pedra animou o evento apresentando músicas com o ritmo “côco”, tradicional no nordeste brasileiro. |
A abertura do seminário foi feita por Alessandra Miranda, da Área Sócio Política da Casa da Juventude Pe. Burnier. |
Cláudia Lima, do Instituto Marista de Solidariedade; e André Silva, da Rede Cidadã. |
Padre Geraldo, da Casa da Juventude Pe. Burnier. |
O seminário promovido pela Rede de Educação Cidadã-Goiás, Instituto Marista de Solidariedade (IMS) e Economia Solidária, com o apoio da Casa da Juventude Pe. Burnier (CAJU), prossegue até domingo, 8 de maio. Outras informações podem ser obtidas pelo site http://www.casadajuventude.org.br/ .
CURIOSIDADE E MEMÓRIAS
Mossâmedes
Durante a sua palestra, o professor Carlos Brandão relatou um pouco de sua história e memórias. Contou que nasceu em Mossâmedes-GO, lembrou da vinda para Goiânia, na década de 1960, do convívio com os padres Cristóvam, Dario (ambos ex-reitores da UCG, atual PUC), Palacin e Pereira. “Com Dom Tomás Balduíno nos idos da ditadura militar, acompanhamos a luta de trabalhadores camponeses na região norte de Goiás”.
Professor Carlos Brandão e Alessandra Miranda. |
Wiphala, símbolo da paz
Estudioso, o professou nos ensinou o significado da bandeira que coloria o ambiente onde proferiu a palestra. Denominada Wiphala, foi descoberta dos Incas Aymara. Tornou-se símbolo latino-americano da paz. “Não dessa paz efêmera, mas de uma paz construída por nós”.
Wiphala: bandeira colorida, ao fundo: símbolo da paz na América Latina. |
PERFIL/Carlos Rodrigues Brandão
- Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1965);
- Mestrado em Antropologia pela Universidade de Brasília (1974);
- Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1980);
- Pós-doutorado nas universidades de Perugia e Santiago de Compostela (1992).
- Professor titular aposentado da Universidade Estadual de Campinas.
- Professor do corpo docente do Doutorado em Ambiente e Sociedade do NEPAM/IFCH da UNICAMP.
- Professor convidado da Universidade de Uberaba, do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP, em Piracicaba, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás e do Instituto de Geografia da Universidade de Uberlândia;
- Pesquisador-visitante do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros;
- Pesquisa de campo em comunidades tradicionais ribeirinhas do rio São Franciso
- Experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Rural, Antropologia da Religião e Antropologia e Ambiente, temas: cultura, cultura popular, educacao popular, educação ambiental.
ALGUMAS ENTIDADES E AUTORIDADES REPRESENTADAS NA ABERTURA DO SEMINÁRIO
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§ Instituto Marista de Solidariedade
§ Rede Cidadã
§ Núcleo de Assessoria Jurídica Popular (NAJUP)
§ Forum Goiano de Saúde Mental
§ Art. Educ. Popular de Saúde
§ Comitê pelo Fim da Violência Policial
§ Coletivo Jovem pelo Meio Ambiente
§ Universidade Católica de Brasília
§ Mandato Popular da deputada federal Marina Sant´Anna (PT-GO)
§ Mandato do deputado estadual Karlos Cabral (PT-GO)
Cláudio Marques Duarte
62 8543 3293
Boa a crítica sobre os que trocam o talento e a vocação por oportunidades que signifiquem só dinheiro. Muita felicidade se perde por isso.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Regina. Uma outra observação que faço diz respeito a uma suposta obrigação de competirmos o tempo todo, como se não fosse possível equilibrar momento de disputa, especialmente a salutar, com o que, a meu ver, deve permear a nossa vida: a necessidade de construirmos laços de amizade, amor, solidariedade, acima de tudo.
ResponderExcluirParabens, Claudio, gostei de sua sintese sobre a palestra do Carlos Brandão. Valeu companheiro. Grande abraço. Obrigado por todo o apoio que vcs tem nos dado. Pe. Geraldo
ResponderExcluirValeu, Padre amigo! Eu é que agradeço a feliz oportunidade de ter participado da palestra. O senhor é mesmo um grande timoneiro deste barco chamado CAJU!
ResponderExcluirOi Claudio,
ResponderExcluirLega sua presença consco, assim como a sintese que fez da fala do Brandão. A percepção de que um outro mundo já acontece nos anima e impusiona.
Abraços solidários!
Caro Cláudio Marques, parabéns por compartilhar conosco esta atividade com o Professor Brandão. No próximo dia 10 de junho Carlos Rodrigues Brandão estará participando conosco do III Fórum de Educação da Região do Araguaia em Conceição do Araguaia-PÁ, o seu relato nos enchem de expectativa e alegrias. Viva o mundo novo defendido por Brandão.
ResponderExcluirProf. Jader
Obrigado, Alessandra e Professor Jader. Um outro mundo é possível e já acontece em muitos lugares do nosso Planeta Azul, Terra, Água, Fogo e Ar. Vamo que vamo.
ResponderExcluirOla Claudio,
ResponderExcluirMuito bom ler todas estas informaçoes. Hoje a tarde, estive na livraria da Vila em SP com meus filhos, e tive a alegria de encontrar o livrro de Manoel de Barros - Exercicios de ser criança- e o texto final - belissimo era de Carlos Rodrigues Brandao. Que eu nao conhecia. Dar um google em seu nome me levou ate aqui. E te digo, que eu como mae de tres filhos, educadora em tempo integral, me emocionei com o que li aqui. Incrivel, que apesar de nao conhecer nem Manoel de Barros, nem Carlos Rodrigues Brandao, o pouco que li sobre eles, me encantam e me motivam, pois estao de acordo ao que penso e acredito. Estarei compartilhando este post em meu blog, para que mais pais e maes possam se inspirar nestes pensamentos. Obrigada por compartilhar.
Biba Arruda Marques www.euaprendoenquantoensino.blogspot.com
Parabéns a todos pelo evento. Realmente o prof. Carlos Rodrigues Brandão é um grande conhecedor e possui muita humildade. Tive o privilégio de ser seu aluno no Doutorado em geografia na Universidade Federal de Uberlândia em 2011. Ele é sensacional. Abraços a todos, Aires José Pereira
ResponderExcluirParabéns a todos pelo evento. Realmente o prof. Carlos Rodrigues Brandão é um grande conhecedor e possui muita humildade. Tive o privilégio de ser seu aluno no Doutorado em geografia na Universidade Federal de Uberlândia em 2011. Ele é sensacional. Abraços a todos, Aires José Pereira
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